ROTEIRO AULA

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Diáspora como conceito analítico:

A “diáspora africana” aqui é entendida como um quadro para a produção do conhecimento, inaugura uma análise radicalmente descentralizada e ambiciosa de circuitos transnacionais de cultura e política[1] que resistem aos padrões de nações e continentes ou os extrapolam.

Os movimentos transnacionais negros, portanto, ao serem analisados na perspectiva da diáspora nos remetem às dinâmicas específicas do processo de racialização de segmentos populacionais no interior dos Estados nacionais e, ao mesmo tempo, às estratégias de suas lideranças para a formação de um tipo de organização política que ultrapasse e denunciasse os limites nacionais da opressão racial.

Essas formas, portanto, expressavam alternativas às formas tradicionais de organização normalmente pensadas pela agência social em termos das relações capital e trabalho, ou mais precisamente, envoltas em um imaginário analítico que capturava as tensões exclusivamente entre operários e patrões. Posteriormente, a formação de classe operária (ou trabalhadora nos países periféricos), conjugando as dimensões objetivas (estrutura) e subjetivas (cultura) e relativizando a determinação em última análise das estruturas econômicas, mas de certa forma mantendo-a, os estudos com estas características foram profundamente influenciados pelos trabalhos do chamado marxismo inglês de Raymond Willians e Edward Thompson.

Tais estudos podem ser lidos como uma tentativa de alicerçar novos limites para as ciências sociais face ao desmoronamento das análises orientadas pelo marxismo (ocidental), frente às mudanças em curso desde a Segunda Guerra Mundial. Esses estudos se expressaram de forma contundente nos chamados novos movimentos sociais (de caráter identitário) dentre os quais, para efeito de minha reflexão e argumento, ganham centralidade as ações práticas e as reflexões teóricas do ativismo negro transnacional derivadas, ou não, de movimentos negros mesmo que limitados por fronteiras do Estado nação.

Quando os ativistas negros uniram-se em movimentos transnacionais, eles se voltaram para uma ampla gama de termos (incluindo etiopianismo, pan-africanismo, antifascismo, comunismo, direitos civis, Black Power, afrocentrismo, antirracismo, antiapartheid, quilombismo), mas raramente e apenas bem recentemente recorreram à diáspora como um denominador comum ou uma designação de grupo.

Para reler estes movimentos transnacionais recorro as contribuições de Stuart Hall, Paul Giroy, Edwards, Kim Butler, entre outros, autores que me permitem retraçar de forma adequada os usos contemporâneos do termo diáspora, transnacionalismo e internacionalismo negro na produção acadêmica.

Organização da tese

Introdução: faço um breve detalhamento do desenho categorial e conceitual a ser seguido discutindo basicamente experiência, espaço de experiência e horizonte de expectativas;

Capítulo I:“Transnacionalismo negro e etnologia francesa: dois paradigmas de ação política” situo os desdobramentos e possíveis articulações entre temas e a dinâmica de construção de suas articulações na formação de um horizonte de expectativas que resultará nas diretrizes da Unesco;

Capítulo II: “Reinventando a África: a construção da solidariedade negra/africana no século XX”, recorrendo a vários autores e diferentes fontes de pesquisa, transito pelos termos da invenção europeia colonial da África pelas ciências e o processo de sua reivenção contemporânea, coordenado por ativistas e intelectuais do continente e diáspora africana;

Capítulo III – Os “Novos tipos de solidariedade e novos padrões de comunicação: movimentos sociais, associativismo negro brasileiro e diáspora africana”: repasso alguns temas trabalhados nos capítulos anteriores de forma a torná-los mais compreensíveis e, também, é o capítulo no qual tento situar, por um lado, a necessidade de uma nova imaginação sociológica que considere a agência histórica criativa dos intelectuais, ativistas e movimentos sociais negros durante o século XX e, por outro lado, as mudanças em curso no Brasil, em torno de uma nova agenda de valorização da cultura afro-brasileira e africana;

Considerações Finais: faço um brevíssimo alinhamento dos desafios que a construção de um imaginário diaspórico africano no Brasil tem colocado para o ativismo político e intelectual negro.

Hípótese:
Os anos 50 do século XX constituíriam-se em ponto de confluência de vários processos que representavam uma profunda transformação no “horizonte de expectativa” da sociedade do período; por um lado, a insustentabilidade da continuidade dos modos de domínio colonial/imperial indicando as dificuldades da transição que se instalou em meio à amplificação e multiacentualidade das tensões decorrentes das consequências trágicas do colonialismo, e que colonizaram as relações sociais nos territórios objetivando as relações abstratamente capturadas no “espaço da experiência”; por outro lado, entraria em cena um novo “horizonte de expectativas” baseado em um pressuposto de que a modernização era a chave para o desenvolvimento, entendido como atualização cultural e abertura de um novo espaço de experiência tendo como orientação o modelo americano e seu contraponto soviético.

Base metodológica: variada pesquisa documental e bibliográfica, visitas a museus e exposições, tendo por referência um modelo de análise da historiografia[2] negra, da memória estabelecida sobre os eventos relativos à organização política dos negros, durante o século XX, recorrendo aos termos Pan-Africanismo, internacionalismo e transnacionalismo negro e diáspora africana.

Encarei os manifestos como prenúncios/anúncios de profundas transformações na paisagem social. Uso apenas dois exemplos: Manifesto Comunista (1848) e o May Day Manifesto (1967/68).

Primeiro movimento
A reconstituição permitiu-me entender as distinções em relação ao uso do termo experiência – Experiência vivida e Experiência percebida.

Segundo movimento
Todos os eventos relacionados ao Pan-africanismo (conferência e congressos), os encontros de escritores e artistas negros, os festivais de arte e cultura negra, as publicações de jornais e revistas emergiam como diferentes formas de registro frente aos obstáculos, extra e intragrupo negro/africano, interpostos pelos contextos e conjunturas nos quais as lutas sociais tiveram lugar. São considerados esforços despendidos por ativistas e intelectuais para reconfigurar positivamente África, desconstruir o “primitivo”, desracializar os processos de formação da subjetividade negra/africana, constituindo-se em um horizonte de expectativas em direção à construção de um sentido de diáspora africana como uma comunidade de memória partilhada com base em experiências nem sempre prazerosas.
Obs: os realizados e os que foram impedidos

Terceiro movimento
A pesquisa nos arquivos da Unesco/Paris de forma on-line e, também, presencial.

BASES PARA A ESTRUTURA DO ARGUMENTO

O eurocentrismo proporcionou uma invenção do ocidente que como paradigma a ser seguido foi sintetizada por várias metáforas; por exemplo, a formulada por Stuart Hall no texto The West and the Rest: Discourse and Power [3] no qual ele examinou como as relações entre as sociedades ocidentais e não-ocidentais passaram a ser representadas. Quando nós relemos alguns momentos históricos nos deparamos com, pelo menos, três pilares centrais da forma como a ideia de “o Ocidente e o Resto” foi constituída como um “discurso” eficaz e poderoso, como segue:

O primeiro é o debate sobre a escravidão e a teoria do Estado Nação.

O segundo pilar é a atualização do primitivo

O terceiro pilar é o Point Four Program
Com base nesses três pilares me foi possível reler de forma muito breve a agência social criativa negro/africana, com especial atenção nas distinções entre o seu horizonte de expectativas e as possibilidades e confrontos postos no espaço da experiência.

[1] Edwards. Social Text, 66, v.19, nº 1, spring, 2001.

[2]É uma palavra polissêmica e designa não apenas o registro escrito da História, a memória estabelecida pela própria humanidade através da escrita do seu próprio passado, mas também a ciência da História.

[3] In: Stuart Hall e Bram Gieben, Formations of Modernity 1992 (primeira edição), Polity Press/Blackwell Publishers Ltd/ The Open University.

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